O poder do olhar no cinema

Você não precisa ir lá no Museu da Beyoncé para ver a Monalisa. Uma câmera pode cumprir o papel de te apresentar ao mundo e à arte.

Cada desenho ou pintura que usa perspectiva propõe ao espectador que ele é o centro único do mundo. A invenção da câmera - e particularmente a câmera de filme - demonstrou que não existia centro.
— John Berger

Com isso, o cinema pôde explorar diferentes perspectivas, cada uma partindo de uma forma particular de ver o mundo. Mas, no fim, a maior parte acaba convergindo para um mesmo olhar hegemônico.

Na obra do diretor Alfred Hitchcock, por exemplo, o olhar do protagonista explora as dinâmicas de poder presentes no voyeurismo para ilustrar o que chamamos de male gaze, o olhar masculino.

Um Corpo que Cai é um filme que deixa isso muito claro ao acompanhar a missão de um detetive de espionar a esposa de seu amigo, cerceando seu livre-arbítrio.

O recente Pobres Criaturas, produzido e protagonizado por Emma Stone, se propõe a imaginar formas de escapar dessa lógica controladora do olhar masculino.

A história acompanha Bella Baxter, uma mulher morta que foi revivida com a mente de uma criança. Com um olhar inocente, ela contesta as normas machistas da sociedade.

Mas é possível pensar novas formas de ver o mundo sem antes derrubar o modelo atual?

No brasileiro Regra 34, de Julia Murat, ao invés de buscar uma saída, a protagonista Simone procura uma forma de conviver com o olhar masculino de um jeito que seja ela quem sai por cima.

Na trama, ela é uma mulher que trabalha de dia na defensoria pública e de noite em uma câmera privê, fazendo exibições sensuais.

Só que até que ponto é ela mesmo que sai na vantagem?

Mas não é apenas sobre a lógica de opressão que opera o olhar no cinema. Em Eu Vi o Brilho da TV, da A24, dois jovens enxergam na arte um refúgio.

Por crescerem em uma cidade hostil a quem é diferente, Owen e Maddy só conseguem enxergar uma vida em que possam viver felizes a sua identidade através da TV.

A história aqui é contada sob uma ótica queer, que pode confundir quem está acostumado a ver apenas o olhar hegemônico.

“Existe beleza, poder e verdade, até mesmo magia, onde a cultura dominante e sua linguagem sancionada só enxergam feiura, impotência e falsidade.”
— Frederick L. Greene

O que você enxerga com o seu olhar?

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