Estamos viciados em TRETA?
Recentemente foram lançadas duas séries com fortes desavenças no assunto principal: “Treta”, da Netflix, que conta a história de duas pessoas que se envolvem numa briga de trânsito com consequências extremas e imprevisíveis.
BFF (Treta) • Netflix
Já “Os Outros”, produção brasileira da Globoplay, se passa dentro de um condomínio fechado no Rio de Janeiro, onde um atrito entre dois adolescentes desencadeia uma confusão maior ainda entre seus pais.
Os outros • Globoplay
As duas narrativas guardam suas próprias peculiaridades, mas ambas podem ser interessantes reflexos de algumas ansiedades dos nossos tempos
Em “Treta”, Danny Cho se sente injustiçado pela vida. Ele quer ser o filho “que deu certo” e até se envolve em negócios ilícitos para sustentar essa imagem. Já Amy Lau, é uma mulher que construiu uma vida nos pilares da família tradicional, mas percebeu que essa faceta é muito frágil. A violência aqui é uma forma de externalizar sentimentos de repressão que são personalizados na figura de um “outro”.
Já em “Os Outros”, a ideia de fazer justiça com as próprias mãos reflete o individualismo e a ruína mental de uma classe média ressentida. Nutrir o sentimento de “se ninguém resolver, eu resolvo” leva a protagonista a tomar decisões extremas e questionáveis pela lógica de um pretenso “cidadão de bem”.
Cibele (Adriana Esteves) e Amâncio (Thomas Aquino)
É muito gostoso assistir o barraco dos outros
A Fazenda, BBB, Casamento às Cegas, são alguns exemplos de programas que usam a briga como combustível para fazer barulho fora do programa. O assunto é estressado ao máximo e ganha uma proporção maior do que teria se fosse nas nossas vidas fora das telas.
À medida que somos empurrados para o individualismo, se torna cada vez mais fácil olhar pra briga dos outros como um mero espetáculo. Nos tornamos voyeurs de treta.
E qual o problema disso?
Sérgio (Eduardo Sterblitch)
Numa sociedade cada vez mais desamparada, o ódio gera engajamento e lucro.
No ambiente das redes, não importa se o que está sendo transmitido é bom ou ruim, mas sim a quantidade de interação que vai produzir.
Danny Cho (Steven Yeun)
Amy Lau (Ali Wong)
Quanto mais briga, mais reações raivosas, mais engajamento, mais barulho, mais briga de novo e, claro, mais lucro pra quem fatura com esses ambientes.
Quanto vale o seu ódio?
Cibele (Adriana Esteves)
Imagens/Reprodução Netflix, Globoplay